Las aventuras del Quijote

De à sombra do futuro
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Mónica Giraldo

Las aventuras de Quijote o el elogio a utopia

Pode-se dizer que existem dois tipos de ênfase essencialmente distintas no processo de idealização utópica:

1º– aquela que se foca obstinadamente no objeto idealizado, no seu espectro distante, desconectado, portanto, da realidade presente. O desejo utópico se caracterizaria deste modo como o desejar de algo perdido, um tipo de sentimento nostálgico que, por vezes, é posto em termos retrospectivos e, por outras, prospectivos, algo como uma nostalgias às avessas. Este último é o caso da redenção e retorno ao paraíso como postos pela mitologia cristã, e o primeiro, o do anacrônico e desencontrado cavalheirismo do herói de La Mancha de Cervantes.
2º– aquela que menos atenta para o objeto idealizado do que para as implicações do próprio movimento de idealizá-lo. Menos do que uma questão futura, neste caso, pensar a utopia se definiria como a tentativa de estabelecer no agora uma zona de tensão e instabilidade, um fantasma que o presente dirigiria antiteticamente contra si mesmo no intuito de se auto-superar. Seria este, ao menos em tese, o caso da utopia política e social.

El elogio a la utopiade algum modo se situa entre essas duas perspectivas. Ao se propor a tarefa homérico-quixotesca de decorar todo o texto da obra original de Cervantes, para, quem sabe um dia, ser capaz de recitá-lo completamente de memória, Mónica Giraldo retoma a epopéia de Dom Quixote nela inserindo um subtexto histórico-político, a saber, aquele da dita “falência das utopias” no mundo atual. Seu “elogio”, ou melhor, seu “projeto de elogio”, possui, no entanto, algo de contraditoriamente nostálgico e irônico. Por um lado, aponta para a utopia enquanto experiência ainda válida e pertinente hoje, por outro, conscientemente, o faz nos termos tragicômicos do próprio herói de Cervantes, ou seja, nos termos de uma nostalgia algo que anâcronica e melancólica. É nesse sentido que a proposta da artista pode ser entendida como um comentário a respeito das contradições vivenciadas pelo pensamento e ação utópica hoje, já que termina por evidenciar o caráter complexo de uma ação que, no presente, congrega em si, paradoxalmente, tanto nostalgia do passado quanto vontade e ímpeto de mudança futura.