Mar Aberto

De à sombra do futuro
Ir para navegação Ir para pesquisar

Mar Aberto


Próximas de receber uma Copa do Mundo e uma Olimpíada, capitais se reinventam urbanisticamente e pipocam projetos para renovar orlas castigadas



A segunda década do século vai acordar com a visão de sofisticados projetos arquitetônicos à beira-mar que pipocam por todo o Brasil. Ancorados em museus, teatros e outros equipamentos culturais, os novos edifícios nascem sob o signo da amplidão, da abertura oceânica para diferentes públicos e usos. Nos próximos seis anos, será implantada no País mais de uma dezena de projetos museológicos importantes.

O Rio de Janeiro moderniza e revitaliza sua orla com projetos pós-modernos. Na Praia de Copacabana, bairro de maior densidade populacional do País, ergue-se o Museu da Imagem e do Som, projeto da arquiteta norte-americana Elizabeth Diller. No Píer Mauá, zona portuária do Rio de Janeiro, brota avançado no mar um ambicioso projeto do espanhol Santiago Calatrava, o Museu do Amanhã, inspirado em elementos da mata atlântica, edifício de 12,5 mil m² com coletores solares móveis na fachada (investimento é estimado em R$ 130 milhões).

Em Vitória (ES), o arquiteto Paulo Mendes da Rocha, de 82 anos, prêmio Pritzker de arquitetura, projetou o novo Museu de Arte Moderna da cidade, na Enseada do Suá. Ousada estrutura com um vão livre permitindo abertura para a paisagem (onde pontifica o Convento da Penha, edificação do século 16, na outra margem), terá ainda um teatro de 1,3 mil lugares, upgrade na capacidade de receber espetáculos para Vitória.

Em Salvador, o Escritório Brasil de Arquitetura apresentou à prefeitura da capital baiana um projeto ambicioso para reformar toda a Cidade Baixa de Salvador, uma proposta que vai do Forte São Pedro, no Campo Grande, até a Ribeira. Projeto urbano dos arquitetos Marcelo Ferraz, Alexandre Barreto, Cícero Ferraz Cruz, Francisco Fanucci, Marcio Targa, Maurício Chagas, Nivaldo Andrade e Sergio Ekerman.

Futuro. Abrir a frente marítima para toda a população, criar espaços públicos qualificados e recuperar urbanismo e paisagismo é a intenção do plano. "Acreditamos que, com uma ação integrada do poder público com o poder privado e a sociedade civil podemos mudar uma cidade maltratada e ofendida por décadas de negligência e abandono", diz o arquiteto Marcelo Carvalho Ferraz.

"Essas ações revelam que os museus são uma força para a construção do futuro das cidades brasileiras", analisa o antropólogo José do Nascimento Júnior, presidente do Instituto Brasileiro de Museus (Ibram). "Esses projetos reforçam a contribuição dos museus na economia da cultura, enquanto agentes de desenvolvimento, que criam empregos e atraem investimentos", avalia. No País, há cerca de 3 mil museus, que geram 27 mil empregos diretos e mobilizam 33 milhões de visitantes ao ano, tornando-se fatores de revitalização urbana. "Esses dados mostram que as cidades podem ter um caminho de qualificação, tendo na cultura a centralidade da gestão das cidades."



originalmente publicado em: O Estado de São Paulo, 29 de agosto de 2010