O sonho de Tatlin e o futuro perdido
O sonho de tatlin e o futuro perdido
Guilherme Peters
Em 1919, o escultor construtivista Vladimir Tatlin apresentou um projeto para construir um grande monumento em São Petesburgo, Rússia, na ocasião da 3a Internacional. O monumento consistia em uma grande estrutura de ferro em forma de espiral, de aproximadamente 600 metros de altura, que conteria no seu interior estruturas de vidro em movimento, girando em diferentes velocidades. Conhecido como a Torre de Tatlin e como um símbolo da modernidade e da revolução industrial, ele nunca foi construído e permaneceu como um projeto utópico.
Guilherme Peters relembra essa utopia em O sonho de Tatlin e o futuro perdido. O artista reapresenta o desenho da torre de Tatlin oxidado em uma chapa de ferro ligada à um circuito elétrico fechado. No circuito, uma boneca russa, dessas que contem no seu interior uma série de outras bonecas que são colocadas umas dentro das outras, gira por meio de um motor elétrico e assim faz o papel de um resistor, garantindo que o circuito (dotado de energia) não entre em curto (pelo gasto dessa energia).
Coloca-se uma oposição de forças: por um lado a boneca russa que gira nos remete ao movimento do projeto de Tatlin e insinua uma cadeia reprodutiva ou uma noção de genealogia — algo que não só manteria o circuito energético das coisas mas também que garante uma permanência no curso da história — por outro, com o passar do tempo, a imagem da torre da chapa de ferro se oxida cada vez mais pelo o contato com ar, podendo um dia desaparecer. Peters evoca, portanto, uma condição passada de projeção de um futuro e, simultaneamente, seu suposto fracasso no tempo presente como uma manifestação contra a banalidade do mundo comodificado e fundamentado na valorização da novidade e de tendências que vivemos hoje.