Volumes Táticos

De à sombra do futuro
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da série Volumes Táticos: objeto nº 1

Clara Ianni


Num primeiro momento, a criação de um muro responde à necessidade de proteção contra as intempéries do espaço exterior. Sua concreção, todavia, compreende uma elaboração intelectual anterior: aquela do espaço enquanto entidade demarcada nos termos de dentro e fora. Nesse sentido, precede ao muro a formulação da linha, a compreensão da demarcação enquanto forma afirmativa de separação. Murar torna-se assim dar forma concreta ao mapa abstrato da propriedade, tornar sólida a condição política da posse, do território conquistado. Daí a figura do muro enquanto elemento estável, símbolo exemplar da fixidez e permanência.

O trabalho de Clara Ianni procura subverter essa noção. Aponta para uma nova dinâmica da ordem do espaço, e, por conseguinte, da política subjacente à sua configuração. Sugere ambos, espaço e política, como uma zona instável e indeterminada na qual as lógicas da propriedade e da acumulação – e suas inerentes categorias de dentro e fora, retenção e gasto – dão lugar às ideias de mobilidade e fluxo, ou, como diria o economista, de flexibilidade e capital de giro. Sem nunca separar, delimitar, conter ou isolar de fato algo, sua construção nos chama atenção para uma terra onde, não havendo dentro e fora, a fronteira pode estar em qualquer lugar, ou melhor, em qualquer lugar que vier a convir a quem a controla e posiciona. Neste ponto, o tácito convite da obra à participação impõe ao visitante uma interação desconfortável e arriscada: sua superfície é áspera e rude, sua movimentação difícil e desajeitada, podendo, inclusive, ser perigosa caso não bem controlada.